Manuel Silva, head de negócios GTF da Unidas: “o mercado mais cauteloso não freou a locação”

O executivo afirma que ainda há muito espaço para crescer porque vários setores estão apenas começando a testar a locação de ativos pesados

Aline Feltrin

Transporte Moderno – Quem é a Unidas Pesados e como nasceu esse braço da companhia?
Manuel Silva – A Unidas Pesados tem origem na trajetória da Ouro Verde, que acumula quase cinco décadas de atuação no mercado de locação de ativos pesados. Após as aquisições pela Brookfield, em 2019, unificamos as operações sob a marca Unidas e passamos a atuar como uma plataforma ampla de locação para transporte rodoviário, logística, construção, mineração, agronegócio e serviços públicos. Hoje, somos uma das principais fornecedoras do país para clientes que precisam de frota com alta disponibilidade e gestão completa.

Transporte Moderno – Qual é o tamanho da frota atual?
Manuel Silva – O grupo ultrapassou 115 mil ativos, sendo cerca de 15 mil pesados, entre caminhões, máquinas e equipamentos. A divisão de pesados cresce, em média, 30% ao ano há cinco anos, acompanhando a demanda por contratos de longo prazo e operações cada vez mais complexas.

Transporte Moderno – Esse ritmo deve continuar?
Manuel Silva – Sim. Ainda há muito espaço para crescer porque vários setores estão apenas começando a testar a locação de ativos pesados. A demanda vem tanto de empresas que buscam liberar capital quanto de clientes que querem previsibilidade, redução de riscos de manutenção e flexibilidade operacional. À medida que mais empresas experimentam o modelo, a curva de adoção acelera.

Transporte Moderno – A frota é multimarcas?
Manuel Silva – Totalmente. Atendemos todas as marcas do mercado. Cada operação exige uma configuração específica, e cada cliente tem experiências diferentes com fabricantes. Nosso papel é buscar o melhor histórico técnico e o melhor custo operacional para cada contrato.

Transporte Moderno – Vocês já atuam com caminhões elétricos e a gás?
Manuel Silva – Sim. Operamos caminhões elétricos em aplicações urbanas, e a procura cresceu bastante nos últimos dois anos, impulsionada por metas de descarbonização e compromissos ESG. Também temos caminhões a gás no rodoviário. Ainda é uma escala menor, por conta da infraestrutura de abastecimento, mas é uma tecnologia que veio para ficar.

Transporte Moderno – A locação ajuda a testar novas tecnologias?
Manuel Silva – Sem dúvida. A empresa não precisa imobilizar capital, nem assumir incertezas sobre valor de revenda ou sobre a velocidade de evolução tecnológica. Ela testa a solução em contrato, coleta dados reais, ajusta a operação e, se fizer sentido, escala. É uma porta de entrada segura.

Transporte Moderno – Qual é hoje o tamanho da frota eletrificada?
Manuel Silva – Ainda representa uma parcela pequena do total, mas cresce mês a mês, principalmente em operações urbanas, como distribuição, serviços públicos e coleta. É onde a tecnologia já faz mais sentido e onde a economia operacional aparece de forma mais consistente.

TM – O Brasil ainda tem apenas cerca de 10% das vendas destinadas às locadoras, contra mais de 25% nos Estados Unidos. O que falta para esse mercado deslanchar?
Manuel Silva – A principal barreira ainda é cultural. Muitos setores nunca trabalharam com locação e mantêm a lógica de “ter o ativo”. Quando experimentam, percebem rapidamente as vantagens — previsibilidade de custos, disponibilidade técnica e menor risco. Depois do primeiro contrato, normalmente continuam.

Transporte Moderno – O juro alto impulsionou a locação em 2025?
Manuel Silva – O juro alto nunca foi impeditivo para a locação. Já aluguei ativo com juro de 40%. O que vimos em 2025 foi uma cautela maior do mercado como um todo, que afetou todos os setores. Não houve retração da locação, mas um redesenho do ritmo econômico.

Transporte Moderno – O comportamento da demanda mudou muito ao longo do ano?
Manuel Silva – Bastante. O primeiro trimestre foi muito forte, o segundo e o terceiro mais fracos, e o quarto trimestre voltou a acelerar. Foi um ano desalinhado no calendário, mas não no resultado. Muitos projetos represados acabaram sendo retomados no fim do ano.

Transporte Moderno – No agregado, o plano anual será alcançado?
Manuel Silva – Sim. A demanda não caiu, ela apenas mudou de lugar ao longo do ano. Fechamos dentro do planejado.

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